quinta-feira, outubro 11, 2007

São dois para lá, dois para cá

Dois pra lá, dois pra cá

(João Bosco e Aldir Blanc)

Sentindo frio em minh'alma
Te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava
São dois pra lá, dois pra cá

Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô
Tremia mais que as maracas
Descompassado de amor

Minha cabeça rodando
Rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
E não me pergunte mais

A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias

No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante
Band-aid no calcanhar

Eu hoje me embriagando
De whisky com guaraná
Ouvi tua voz sussurrando
São dois pra lá, dois pra cá.


Tanta saudade, Elis Regina...
Que me perdoem este súbito ataque de romantismo melancólico, mas ao descobrir este video da Elis Regina, com mais de 25 anos, não consegui resistir...

A Elis Regina, deixou-nos de forma precipitada e precoce, mas como Deus não fecha uma porta sem abrir uma janela, ficou por cá uma miuda, chamada Maria Rita que herdou os olhos da Elis e possui um enorme talento....

Tiber

sexta-feira, setembro 07, 2007

Até sempre Luciano...

Graças a meu avô, habituei-me desde criança a ouvir ópera, musica clássica em velhos discos de 78 rpm, numa grafonola de corda e depois num móvel com gira-discos e rádio Telefunken, entretanto comprado a prestações como era habitual nessa altura e que segundo ele "custou os olhos da cara"...
Foi graças a meu avô que aprendi palavras como Tenor, barítono, soprano, ópera, opereta, etc...Foi ainda através dele e da música que ouvia, mas principalmente das histórias que me contava, sobre os compositores clássicos, sobre as óperas , que fui aprofundando e refinando o meu gosto nessa área...Aprendi a gostar de Beethoven, Tchaikovsky, Mozart, mas também de Turandot, Madame Butterfly, Carmen, Fígaro, etc...


E foi nessa altura que ouvi alguns dos grandes tenores da época Mario Lanza, e Enrico Caruso...
Anos depois, já meu avô não estava (fisicamente) a meu lado , descobri Pavarotti... e, na primeira vez que o ouvi, lembrei-me das palavras que ele me dizia quando ouvia Maria Callas, Caruso ou Lanza: "Quem canta assim, não canta, encanta!."

Meu avô, penso eu nunca ouviu Pavarotti, nunca teve a felicidade de ouvir aquela voz forte, cheia, potente e ao mesmo tempo melodiosa, tranquila, saida da alma, sem esforço, tão natural que dá a impressão de que qualquer um canta assim... resta-me a fé de que talvez um dia nos juntemos outra vez, aí sim a ouvir Lanza, Pavarotti, Callas....

Que Luciano Pavarotti descanse em paz, mas que a sua voz não se cale nunca...

quinta-feira, agosto 16, 2007

A Festa do Monte

Freguesia de Nossa Senhora do Monte
"A origem desta paróquia vem da fazenda povoada que ali tinha Adão Gonçalves Ferreira, o primeiro homem que nasceu nesta ilha e que era filho de Gonçalo Aires Ferreira (V. pag. 21), o mais distinto companheiro de Zargo na descoberta do arquipélago. Como geralmente acontecia, era uma pequena capela o centro em torno do qual se agrupavam os primeiros povoadores, tendo Adão Ferreira levantado ali pelos anos de 1470 uma modesta ermida, que parece ter tido o nome primitivo de Nossa Senhora da Incarnação, passando depois a chamar-se Nossa Senhora do Monte, devido certamente ás condições orograficas do local, que bem justificavam a nova e apropriada denominação. Outros afirmam que a milagrosa aparição da imagem da Santissima Virgem, que logo começaram a chamar Nossa Senhora do Monte, é que deu origem a que a capela tomasse este nome, que se transmitiu ao sítio e mais tarde a toda a paróquia.
A lenda dessa aparição miraculosa vem narrada, nos seguintes termos, no verso das gravuras que representam a pequenina e veneranda imagem: «Ha mais de 300 anos, no Terreiro da Luta, cerca de 1 quilómetro acima da igreja de N.ª S.ª do Monte, uma Menina, de tarde, brincou com certa pastorinha, e deu-lhe merenda. Esta cheia de jubilo, refere o facto á sua família, que lhe dão deu credito, por lhe parecer impossivel que naquela mata erma e tão arredada da povoação aparecesse uma Menina. Na tarde seguinte reiterou-se o facto e a pastorinha o recontou. No dia imediato, á hora indicada pela pastorinha, o pai desta, ocultamente, foi observar a scena, e viu sôbre uma pedra uma pequena Imagern de Maria Santissima, e á frente desta a inocente pastorinha, que a seu pai inopinadamente aparecido, afirmava ser aquela Imagem a Menina de quem lhe falava. O pastor, admirado, não ousou tocar a imagem, e participou o facto á autoridade que mandou coloca-la na capela da Incarnação, próxima da actual igreja de «N.ª S.ª do Monte», nome que desde então foi dado aquela veneranda Imagem.»"

Fonte: Elucidário Madeirense

O Elucidário Madeirense, foi uma obra criada para comemorar os 500 anos da Descoberta da Madeira, e é uma fonte quase inesgotável sobre a História da Madeira, do seu povo, seus costumes e tradições, e claro está sobre as várias lendas que a cultura popular teima em não apagar da memória...

A Nossa Senhora do Monte é a padroeira da Madeira, o seu dia celebra-se a 15 de Agosto, a lista dos seus milagres em benefício da população local, é imensa; o Monte, está para a Madeira, talvez como Fátima para o País!
Ainda sobre a Nossa Senhora do Monte, não resisto a contar a história, do seu primeiro milagre conhecido e cuja origem remonta aos tempos da descoberta:

" Nos primeiros tempos da colonização da ilha da Madeira, havia uma ribeira de água límpida e abundante rodeada de terras férteis que encantou os portugueses que lá chegaram. Mas um dia um senhor poderoso resolveu ter aquela água só para si e canalizou a fonte para as suas terras. A população desesperada, porque aquela água era imprescindível à sua sobrevivência, resolveu fazer uma procissão à Senhora do Monte, implorando para que a água voltasse a brotar naquela fonte. O milagre aconteceu e a água encheu de novo a fonte, mas em quantidade menor do que no início. O povo utilizou então em seu benefício a ideia do desvio da água e, construindo regos ou cales, levaram a água mais longe, tornando férteis muitos campos e quintas. A ribeira ficou a ser conhecida como a ribeira de Cales e o milagre da Senhora do Monte ficou para sempre na memória popular."

A Fonte ainda hoje existe, no Largo do Monte, cujo verdadeiro nome é "Largo da Fonte", e reza a crença popular que quando dela deixar de brotar água limpa e cristalina, a Madeira desaparecerá nas águas do Oceano...

É neste largo, no largo da Fonte, que se realiza o maior arraial da Madeira, a "Festa do Monte" que tem o seu ponto alto na noite de 14 para 15 de Agosto, com as Romagens e as Peregrinações, e termina no dia 15 com a Procissão; a missa solene, este ano é aguardada com alguma curiosidade, pois será celebrada, pelo novo Bispo da Diocese, D. António Carrilho.

Na Igreja do Monte, encontra-se ainda a sepultura provisória do imperador da Austria, Carlos, que faleceu nesta freguesia a 1 de Abril de 1922, e que constitui uma atracção e um ponto de visita obrigatório de muitos Turistas que nos visitam.
Também é da sua vizinhança, junto à escadaria que partem os Carreiros, e os célebres "Carros de Cestos" numa viagem sempre em grande velocidade até ás imediações da cidade.
Em tempos, existiu um Comboio de Cremalheira que fazia o percurso entre o centro do Funchal e monte, mas hoje em dia apenas restam algumas fotografias e um edifício degradado do que foi a primeira 8e única) estação terminal de comboio da Cidade do Funchal.

O Monte, é pois um dos lugares mais bonitos e emblemáticos deste "calhau", pena é que muitas vezes seja desprezado e esquecido principalmente por quem devia ter como supremo interesse o acautelar aquilo que na realidade constitui o nosso verdadeiro património e reflecte o sentir e o pulsar de um povo... esquecer as nossas tradições, "afogar" na modernidade as nossas raízes, desprezar a memória colectiva de uma sociedade é o primeiro passo para o sua desagregação...

Ainda vamos a tempo... Haja vontade...

terça-feira, agosto 14, 2007

Pobres e Mal-Agradecidos...

Ciganos

Tudo o que voa é ave.
Desta janela aberta
A pena que se eleva é mais suave
E a folha que plana é mais liberta.

Nos seus braços azuis o céu aquece
Todo o alado movimento.
É no chão que arrefece
O que não pode andar no firmamento.

Outro levante, pois, ciganos!
Outra tenda sem pátria mais além!
Desumanos
São os sonhos, também...

Miguel Torga


Este país é estranho...
Estranho e mal-agradecido...
No dia 12 de Agosto, se fosse vivo, Afonso Rocha, mais conhecido por Miguel Torga, faria 100 anos!
A data foi comemorada na sua aldeia natal, com a pompa e circunstância merecidas, mas curiosamente sem a presença de um único membro do Governo, sem uma única palavra de ninguém, sem uma menção da Ministra da Cultura... Apenas o Presidente da República se manifestou... ah, e Manuel Alegre, se calhar o último dos verdadeiros Socialistas...
Torga é um dos maiores poetas contemporâneos, como homem, foi sempre um lutador pela Liberdade, com várias obras apreendidas e censuradas e chegou até a ser preso...Premiado várias vezes, recusou receber prémios no Estado Novo... Não merecia esta desconsideração...

Curiosamente, nos programas do 12º ano, acho que Miguel Torga foi esquecido já há algum tempo... Como é grande um país em que nos currículos estudantis não cabe um poeta como Miguel Torga! Se calhar porque outros poetas maiores se "levantam"... é que senão for por essa razão, então é porque a estupidez assentou arraiais no Ministério da Educação...
E assim, vamos continuar a ser pobres... Pobres e mal-agradecidos!



Tiber

sexta-feira, agosto 10, 2007

Jornalistas e Jornalismos...

Ás vezes, quase me sinto tentado a dar razão ao "pai" Alberto...

Alguma comunicação social da Madeira parece andar de cabeça perdida... Alguém acredita que a reportagem de uma estação televisiva, sobre o Rali Vinho Madeira, no dia de abertura da Prova, abriu criticando a Organização, por ter convidado duas equipas femininas para conduzir os carros 0 e 00, com única justificação de que eram Mulheres? Depois lá tentaram disfarçar dizendo que tinham pouca experiência, etc esquecendo-se que ambas já tinham entrado várias vezes como pilotos e co-pilotos em várias provas regionais e nacionais, participam regularmente em provas de pista e que tinham desempenhado exactamente a mesma função no ano passado, sem qualquer problema?
Mas também, se não fosse assim ninguém se lembrava de quem tinha feito essa reportagem... Aconselho a todos, os que gostam de Ralis (e os que não gostam ...) a ver a reportagem feita pelo EuroSport, um exemplo de profissionalismo e de qualidade, sem polémicas, destacando a competição, a beleza das nossas estradas, o bom comportamento do público, etc...

Para quem critica o subsídio dado ao Rali pelo Governo Regional, talvez baste ver aqueles 30 minutos de reportagem, que passaram ( e vão ser repetidos mais duas ou três vezes) em horário nobre no Eurosport para mudar de opinião...
Mas isso são contas de outro Rosário, e eu sou suspeito porque há muitos anos que acompanho por dentro o Rali Vinho Madeira...

Mas, como nem só de Rali vivemos nós, ontem de manhã, os noticiários de uma Rádio, abriram com a notícia de "mais um incumprimento de uma Lei da República por parte do Governo Regional"!
E em seguida, desenvolviam dizendo que o Governo Regional se recusou a aplicar a lei das Carreiras da Função Pública, que reduz drásticamente o número das carreiras existentes.
Pronto,pensei eu, o AJJ tinha "atacado" outra vez e voltava a desafiar tudo e todos, naquela política estéril que a nada conduz...E lá íamos nós, os "desditosos" filhos desta terra pagar outra vez as "favas" de uma guerra inútil..

Um pouco mais tarde veio a surpresa, por esclarecimento da própria Assembleia da República (entidade insuspeita, neste caso): A lei nem sequer ainda tinha sido aprovada!
O Governo Regional, limitou-se a responder de forma negativa, a um pedido de parecer que tinha sido solicitado, no âmbito das suas competências, porque entende (e neste caso, bem!) que existem carreiras específicas da Região que têm que ser devidamente acauteladas... Aliás, contra esta fusão das carreiras, já se manifestaram quase todos os partidos da oposição e o sindicato da Função pública...
Qual será então o interesse em dar este tipo de notícias? Provocar o confronto? Irritar o Governo Regional? Agradar ao Poder Central?

Ou será pura e simplesmente incompetência???


Tiber

sexta-feira, julho 27, 2007

Tristeza(s)

Esta semana, a Assembleia Regional da Madeira, deu mais um daqueles tristes espectáculos a que já nos acostumou...
A casa que devia ser um exemplo de Liberdade e Tolerância, tornou-se outra vez num "antro" de insultos, ofensas, ameaças, que foram desde o PSD até ao PCP, e que acabam, principalmente com a regularidade em que se repetem, por dar um triste exemplo e contribuir para o descrédito que a política (e os políticos) cairam...
Nestas alturas, sinto-me envergonhado de ter ido votar, de ter contribuido para eleger algumas daquelas pessoas...
Estive muitos anos sem votar...Votava apenas para o Presidente da República, porque entendia que (ainda) era quem mais credibilidade trazia à Democracia e á própria política... Nas últimas eleições, (as eleições regionais antecipadas) resolvi ir votar, mais em protesto pelo facto de se estar a "colar" rótulos aos madeirenses do que por convicção, sempre me recusei a "fazer figura de carneirinho"...Mas, agora, depois desteas cenas deploráveis, não me revejo em nenhuma daquelas "alminhas" como diria meu avô...
O meu voto foi de protesto... Protesto contra o Governo Central por nos tratar como "Portugueses de segunda" por maioritariamente termos uma opção política diferente... Protesto contra o Governo Regional pela incapacidade manifesta de encontrar linhas que unam os madeirenses, e em vez disso priveligiar as fracturas tentando muitas vezes a teoria do "inimigo externo"...
Protesto ainda contra uma oposição regional que a única coisa que sabe fazer é "meter o rabo entre as pernas" quando as coisas aquecem, não percebendo que o único caminho é a seriedade e a honestidade mental, uma vez que para pior... já basta assim...

As palavras de Manuel Alegre, superiormente cantadas por Adriano e que eu ouvia à "socapa" em casa de meu avô, continuam actuais... O contexto pode ser bem diferente, mas o sentido e a sua força, permanecem na mesma:

....
E a noite cresce por dentro

dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Excerto da trova do Vento que passa (Manuel Alegre)


Valerá a pena votar em próximas eleições?
É que eu posso ter "cara de palhaço", vestir "roupa de palhaço", mas estou farto destas palhaçadas!

Tiber

terça-feira, julho 24, 2007

De volta...

Voltar a casa é sempre um descanso...
Depois de três semanas "andando por aí", voltar ao nosso cantinho, é sempre uma benção...
Até das "loucuras" da Niki já estava com saudades

Niki

Já tinha saudades de ao sair de casa de manhã, cumprimentar o vizinho, trocar duas palavras rápidas com o carteiro "Hoje não tenho nada para si... mas viu a caixa? Deve estar cheia, com tanto tempo fora..."! Sempre simpático e delicado o Sr. Jorge, carteiro desta zona há pelo menos 10 anos...

Já tinha saudades do cheiro a mar, do sabor a maresia, da humidade sufocante que "entra até aos ossos", de abrir a janela, e ver os barcos no porto do Funchal, de repousar a vista na baia, de ouvir ao longe o sino da igreja do Livramento, logo seguido do da igreja da Boa Nova, mesmo aqui ao lado...

A "minha " vista do Funchal

No fundo, são estes pequenos pormenores que "alegram" a nossa vida...

Apesar dos desvarios por vezes meio(? meio é favor...) tresloucados do Presidente do Governo Regional, das obras mal feitas e acabadas "à pressão", dos problemas financeiros, das dúvidas, das confusões, a Madeira continua a ser a minha "terra", o meu Porto de Abrigo, é aqui que tenho as minhas raízes, é aqui que eu pertenço, é aqui que eu me sinto bem; felizmente ainda não fui atraido pelo fascínio centralizador, nem pelo "canto da sereia" da antiga "Capital do Império"...

Tiber

sábado, julho 14, 2007

E vão passando os dias...

... mas sem que eu me sinta completamente de férias... Não sei porquê, mas este ano falta-me qualquer coisa... Não consigo desligar completamente do trabalho... Não consigo libertar-me por completo, não consigo atingir aquele "estado de despreocupação total" que limpa a mente e descansa o corpo...
Continuo a andar por aí... Quase sempre ao sabor do vento e da maré...Muitas vezes com a História em fundo... ou como desculpa, sei lá...

A nossa História é fértil em lendas , uma das que me lembro é a de D.Fuas Roupinho, primeiro Almirante Naval Português, e das marcas das patas do cavalo, no rochedo sobranceiro à Nazaré; foi a curiosidade sobre esta personagem (D.Fuas Roupinho), que me levou a Porto de Mós, vila da qual o fidalgo foi alcaide, nomeado pelo próprio D.Afonso Henriques...

Porto de Mós supreendeu-me, em primeiro lugar, pelo tamanho e pela quantidade de Comércio que apresenta, prova de que o Pais não é mesmo só Lisboa, por muito que nos queiram fazer crer...

Castelo de Porto de Mós

E maior foi a surpresa, ao ver o Castelo de D.Fuas Roupinho, que foi restaurado e adaptado recentemente a museu, mas sem ter sido estragado ou descaracterizado por intervenções de gosto duvidoso... O aproveitamento que a Câmara de Porto de Mós fez do seu principal Monumento, é um exemplo que devia ser seguido noutros monumentos deste país... a remodelação do espaço interior, aproveitando as ruinas e os recantos para a instalação de um museu, é digna de realce...A exposição em si, não é nada de extraordinário... surpreendeu-me pela visita ser gratuita, e ao que consta a Câmara de Porto de Mós, não tem nenhum "Berardo" como financiador...
Contrasta este facto, com a Sé de Évora, cuja visita à Basilica, é paga, o que a mim me choca bastante, não devia a "Casa de Deus" estar aberta a toda a gente?

Sé de Évora

Que fosse pago para visitar o Museu e os Claustros, sou o primeiro a apoiar, agora a Basílica???
No entanto, apesar do 1€ que custa para visitá-la, a espectacularidade da Sé de Évora, vale bem esse preço... O princípio é que está errado



Tiber

quinta-feira, julho 05, 2007

Andando por aí...

Finalmente, começo a sentir-me de férias...
E para isso, preciso de pouco... basta não ter horarios a cumprir, não ter rotas nem destinos... Pura e simplesmente, como dizia alguém (apesar do sentido ser bem diferente...) gosto é de "andar por aí"... à deriva, vagabundeando, parando quando dá fome, ou quando a beleza da paisagem a isso convida...
Este meu "andar por aí" leva-me a praias, vilas, castelos, igrejas, capelas...leva-me a conhecer e a reconhecer cantos e recantos do país... anteontem em Azeitão uma vila simpática de gente boa, trabalhadora, onde se come um dos melhores doces deste mundo...(as tortas de azeitão), onde se faz um dos melhores queijos e para terminar um vinho moscatel de se lhe tirar o chapéu....

Ontem na Nazaré, uma praia fabulosa, com um areal a perder de vista, se quem manda no "nosso" Porto Santo não fosse de mente tão fechada, tinha aqui se calhar um bom exemplo de como cativar os turistas... arte de bem receber, também tem muita influencia...
E hoje?
Hoje andei pelo "deserto"rumei a sul, até Alcácer do Sal... uma pérola à beira do Sado, se calhar desconhecida de muita gente... um calor sufocante, uma paisagem deslumbrante, sitios cheios de história, onde ainda infelizmente, se nota algum abandono e desintresse a que os nossos sucessivos governos votaram o Alentejo, o Ribatejo e bem vistas as coisas, todo o país...muitas vezes quando por aqui ando, me vem à ideia uma frase antiga " o país é Lisboa, o resto é paisagem"...

E após um almoço de peixe grelhado na brasa, eis que continuo para Sul até Grândola, vila morena eternizada pelo génio do Zeca e pela Revolução dos cravos... Grandola é para mim, um símbolo de luta contra a ditadura, que cada vez faz mais sentido, nestes tempos em que apesar da democracia, alguém insiste em dizer que a liberdade de expressão tem lugares próprios para ser usada, não é para usar na rua... essa teoria vergonhosa de que só se pode dizer mal do Governo em casa, é um mau princípio, tenho medo que qualquer dia, nem em casa se possa dizer nada...

Bom, as férias continuam, enquanto conseguir manter-me longe dos problemas e ir limpando a mente e renovando a esperança que muitas vezes pensamos perdida, já não é mau...

E amanhã é outro dia....

Tiber

domingo, junho 24, 2007

Quase de Férias

Há mais de um mês que não escrevia por aqui...
Desta vez, não houve nenhuma razão em especial, talvez fosse apenas falta de inspiração... Talvez fosse do desânimo que estes dias me trouxeram...
Mas, a melhor parte é que estou quase de férias...
E este ano ando desde Janeiro a suspirar por elas...
Não é cansaço físico, é bem pior... é saturação, cansaço psicológico, estou farto do meu trabalho, já não faço o que gosto (será que alguma vez o fiz???), e bem pior do que isso, acho que já não gosto do que faço... Sinto-me inútil, triste, desanimado, etc...
Sinto-me só aqui na ilha...

Sós
Irremediavelmente sós,
Como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros não se explicam:
Arrefecem

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de dentro se refracta,
nenhum ser de nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só e mais ninguém.


António Gedeão (excerto de "Poema do Homem só")

Tiber

segunda-feira, maio 21, 2007

Obviamente, demitam-na!

Ás vezes, uma simples e pequena notícia, pode ser mais preocupante do que a abertura dos noticiários
Foi isso que aconteceu quando hoje, durante o telejornal, foi dita uma pequena notícia, sobre um professorque viu terminada a comissão de serviço e anda agora às costas com dois processos, um disciplinar e um outro colocado pelo Ministério Público... E qual o crime desse professor?
O mais tenebroso, o mais infame dos crimes... esse professor alegadamente insultou o nosso Excelentíssimo Primeiro Ministro, ao fazer um comentário jocoso, quando conversava com um amigo, sobre a possibilidade de tirar licenciatura por Fax...
Não foi em público, não foi no Jornal da Paróquia, não foi num Blog, foi numa conversa com um amigo... Será isto possível???
Que Crime Infame! Espero que o Condenem ao degredo, quiçá na Madeira, onde seria obrigado a aturar as inaugurações do Alberto João até ao fim dos seus dias... ou nas ilhas desertas, onde apenas 42 lobos marinhos seriam ouvintes atentos dos seus comentários jocosos e depreciativos...
Claro que não acredito que o nosso Excelentíssimo Primeiro Ministro tenha ouvido a mesma notícia, porque se ouvisse, de certeza que os processos já tinham sido encerrados por ordem superior, e quem os abriu já tinha sido demitido, despedido, exonerado, RUA!
Nem sei quem é o professor, nem me interessa, isso é completamente irrelevante... O que interessa nesta altura é pensar se é este o país que queremos, se é esta a sociedade que desejamos, se é por aqui que queremos ir...

O processo já de si é ridiculo, mas as justificações dadas pela Srª que ordenou a suspensão, roçam o disparate e atingem os limites mais baixos da subserviência....

Vá lá, Sr Primeiro Ministro: "Obviamente, demita-a!"

segunda-feira, maio 14, 2007

Fantasmas

1963, Colégio Lisbonense no Funchal, Sala da 1ª Classe, meados de Outubro.As aulas tinham começado há poucos dias... A professora, chega ao pé de um aluno e manda-o ler um pouco do livro de leitura... era para avaliar os conhecimentos que cada um já tinha...
O aluno timidamente lê algumas linhas do texto, de forma clara, mas com voz trémula de uma criança de seis anos...
Ao fim de poucas linhas, a professora pergunta:
"Estás mesmo a ler ou decoraste isso?"
"Estou a ler Srª Professora"
A professora vai buscar um outro livro, abre-o e diz:
"Lê este texto"
O aluno olha para o texto, e começa a ler com voz ainda mais trémula que da primeira vez:
"Ò mar salgado Quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal!"
A professora diz:
"Basta, parabéns, sabes ler bem, quem te ensinou?"
O aluno desata então num choro...a professora carinhosamente aproxima-se e diz:
"Porque choras? leste bem, parabéns".
"Choro, porque a Srª professora não acreditou em mim!..."

O aluno era eu... A professora a D.Aldora...Não me lembro do primeiro texto, mas lembro-me perfeitamente do de Fernando Pessoa... Só anos mais tarde li o poema completo...
Ah! Não me lembro de ter respondido à pergunta, mas quem me ensinou a ler foi meu avô com a ajuda de meus pais...
Quando fui para a primária, lia correntemente, já tinha começado a devorar os livros dos Cinco...
E lembrei-me disto porque começou neste fim de semana a "Feira do Livro" aqui na Madeira...

"Quem me leva os meus fantasmas? Quem me diz onde é a estrada?"

Tiber

quarta-feira, maio 02, 2007

Mágoa

Mágoa

Ah quanta melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
Que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração!
Que angústia desesperada!
Que mágoa que sabe a fim!
Se a nau foi abandonada,
E o cego caiu na estrada
-Deixai-os, que é tudo assim.
Sem sossego, sem sossego,
Nenhum momento de meu
Onde for que a alma emprego
-Na estrada morreu o cego
A nau desapareceu.

Fernando Pessoa

Hoje é daqueles dias em que as palavras de Pessoa me marcam e calam bem fundo....

E mais não digo...

Tiber

quarta-feira, abril 25, 2007

As portas que Abril Abriu...

"Os madeirenses não podem renegar a Pátria, pela razão natural de não poderem negar a Raça. Madeirenses e Ingleses, Madeirenses e Americanos são elementos que se repelem.Não é só o facto do sangue que impede essa união fantasista, essa osmose repugnante de raças diferentes, mas uma civilização secular com raízes profundas na vida e na história.Autonomia quer dizer descentralização, ou melhor desconcentração política e administrativa.Isso significa que à luz da Bandeira de todos os Portugueses, se levantará a Bandeira particular dos madeirenses, com seu escudo e brasão de armas.
Não é um grito de revolta, mas simples petição de justiça. Adquirimos direitos, exigimos que os reconheçam e nos garantam o seu livre exercício.
Dar autonomia à Madeira é constitui-la em unidade política e administrativa, compatíveis com os direitos da soberania nacional. É reconhecer que a Madeira pela sua situação geográfica, pela qualidade e número das suas relações com o Mundo, pelos seus usos e costumesdo seu povo, pelo grau do seu desenvolvimento moral, intelectual, agrícola, industrial, comercial, adquiriu uma fisionomia própria e especiais interesses colectivos próprios, que a individualizam como Região e como agregado social."
Extracto do livro : "A conquista da Autonomia da madeira, de Rui Nepomuceno"
Estas palavras não são recentes, contrariamente ao que possa transparecer, foram ditas em Dezembro de 1922 pelo Dr.Pestana Reis durante as comemorações do Quinto Centenário da Descoberta da Madeira.
A ideia da Autonomia Madeirense, não é portanto, uma invenção recente nem propriedade de nenhum actual "iluminado"; a Madeira sempre teve um passado de luta e de resistência Anti-Fascista, que alguns parecem querer fazer desaparecer da História!
Muitos parecem esquecer que a Madeira foi uma das (poucas) regiões que em bloco se manifestou e enfrentou Salazar, tendo depois os seus habitantes pago por essa ousadia até muito depois de 1974...

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Ary dos Santos (As portas que Abril Abriu)
Tiber

domingo, abril 15, 2007

Lágrima de Preta...

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhai-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

(António Gedeão)

Este poema traz-me à memória um turbilhão de recordações...Em especial, de meu avô, que me explicou o que significava cada uma destas linhas, que me mostrou, era eu criança ainda que o racismo era uma coisa má (como ele dizia) e que devia sentir orgulho por Portugal ter sido talvez o primeiro país europeu a abolir a escravatura...
Alguns anos mais tarde, já meu avô não era vivo, redescobri este poema na voz de Adriano Correia de Oliveira.(Um LP trazido à socapa por um tio meu que na altura estudava em Coimbra..) e foi então meu tio quem me explicou porque é que o disco não estava à venda normalmente e porque é que se o quisesse ouvir alto, era melhor usar auscultadores...
Este poema, foi por tudo isto, uma verdadeira fonte de aprendizagem para mim....
Passaram mais uns anos e volto a redescobri-lo, dessa vez na sua forma científica, percebendo o que eram os ácidos, as bases e os sais...
Tudo começou de repente a fazer sentido...Nesses já longíquos anos 70, lembro-me de ter lido, quase como quem lê um romance, o livro de Física e Química, cujo autor se chamava Rómulo de Carvalho e hoje, ao arrumar alguns papeis antigos, encontrei uns apontamentos já meio desfeitos pela humidade (esta minha mania de guardar tudo tem este problema) um pequeno excerto de "A História do átomo" publicado em 1975, precisamente por Rómulo de Carvalho:

"O átomo começou por ser uma hipótese, uma suposição simplesmente cómoda para tornar mais fácil a interpretação do Universo, e acabou por ser um 'objecto', uma 'coisa', que se pode dirigir, dominar, criar e destruir. Foi como se alguém tivesse sonhado com um mundo fantástico e um dia o descobrisse, vivo e real, ao dobrar o cotovelo de uma estrada. Certamente ninguém acredita na existência das coloridas paisagens que o génio de Walt Disney tem imaginado e seria bem tolo aquele que percorresse o mundo na esperança de as encontrar. E se a encontrássemos, um dia, noutro planeta?
E assim sucedeu com o átomo: nasceu na imaginação e, afinal, existia."

Esta visão e descrição poética da ciência, sempre me fascinou... Não são muitos os que a têm e que são capazes de a exprimir desta forma... Rómulo de Carvalho, aliás António Gedeão, tinha...
E se nessa época os "chumbos" em física eram bem menores que agora, será que os Manuais e a forma como estavam (bem) feitos, não davam um contributo decisivo?

Tiber

sexta-feira, abril 13, 2007

Até amanhã, camaradas...

Eu não sou comunista, nunca votei no partido comunista e confesso que não tenho especial simpatia pelos ideais ou pelas posições defendidas pelo PCP.
No entanto, esta posição, não abafou a minha profunda admiração por duas pessoas, comunistas, que sempre mantiveram uma linha coerente e bem definida nas suas ideias: Álvaro Cunhal e Odete Santos.
Alváro Cunhal era uma mente brilhante, que tinha uma visão muito própria e clara do que queria para o país e não se desviava uma linha daquilo em que acreditava; era um homem verdadeiro, que não escondia a sua posição mesmo que isso lhe custasse alguns milhares de votos... Cunhal era incapaz de prometer baixar impostos e a seguir depois de eleito aumentá-los (onde é que eu já vi isto?)...
A deputada Odete Santos, do Partido Comunista, despediu-se hoje do Parlamento, com um discurso emocionado...
Odete Santos é talvez a última das verdadeiras comunistas, daquelas que não vacilam nas suas convicções, não abdicam do que acreditam nem "metem os ideias na gaveta" .... e Hoje, pela ultima vez discursou no Parlamento; abandona-o porque assim o quer, porque entende que "chegou a hora"... e ao contrário de outros, não acredito que vá "andar por aí" , pois enquanto "houver estrada para andar" ela lá estará, como sempre esteve, do "lado esquerdo" da vida!
Nunca fez tanto sentido a frase dita de forma emocionada "Até amanhã Camaradas!"
Ficou o Parlamento mais pobre, mas Odete Santos saiu da forma que quiz, coerente consigo própria como não podia deixar de ser...

Tiber

sexta-feira, abril 06, 2007

Portugal, um país estranho...

Eu não entendo este país... e muito menos as suas gentes... em primeiro lugar, elegem como o "Maior Português de sempre" um ditador, que nunca ganhou uma eleição de forma livre e democrática enquanto foi vivo... Mas, não contentes com isso, há uns quantos que reunidos num Partido que nem sei o nome ao certo, publicaram em Lisboa (claro que só poderia ser lá...) um cartaz com todas as intenções xenófobas e dando a entender que os estrangeiros estão a mais aqui... esquecendo-se de que também nós somos ainda um povo de emigrantes... Os portugueses nunca foram assim... A xenofobia nunca fez parte da nossa maneira de ser! Porquê agora?

Mas quando alguém reclamou, o tribunal analisou a questão e chegou à conclusão que afinal o cartaz era inocente e sem maldade nenhuma... Ficou toda a gente de boca aberta... então não é que aquilo que aos olhos de todos era uma coisa, afinal era outra?
Como diria meu avô, "Benza-te Deus que ninguém os entende!".

E quando se pensa que já tinha acontecido de tudo, eis que um grupo humorista, que não abdica de intervir politicamente, faz publicar um cartaz satirizando o outro, (o tal que afinal parecia xenófobo e não era).

E não é que alguém mandou retirar este cartaz porque "não estava autorizado"...
Nesta sexta feira santa, ao ver tudo isto, lembro-me de umas palavras ditas há mais de 2000 anos, mas que hoje, aqui e agora, nesta "espécie de país" à beira mar plantado não podiam ser mais actuais
"Perdoai-lhes Senhor, porque não sabem o que fazem!"

quarta-feira, abril 04, 2007

Roma

No Blog de uma amiga e colega de longa data, "Mulheres de Atenas", tem uma crónica emocionada de uma recente viagem por ela feita a Roma e Assis. Esse relato lembrou-me a minha própria experiência em Roma, onde estive por razões profissionais durante cerca de mês e meio...
Foram dias inesquecíveis! Roma é das cidades que visitei, a única que me deixa uma sensação do tipo "De onde é que eu conheço isto?"
É uma cidade carregada de história, onde a cada passo se respira a atmosfera da antiguidade, em paralelo com uma cidade moderna e cosmopolita onde em muitos casos, os monumentos nem sempre foram tratados e compreendidos com a dignidade que mereciam, mas onde a "história está lá!" viveu-se ali, entre aquelas muralhas...
Traz-nos uma sensação estranha, pisar um degrau onde há mais de dois mil anos, César foi assassinado, quase que dá para ouvir a voz dele e ver sangue manchando o chão...
Roma é, para mim, uma fonte inesgotável de sensações e de recordações!
Desde a emoção e aquela sensação de falta de ar provocada pela primeira vez que se olha para a "Capela Sistina" com o seu tecto indiscritivel, fruto do genial talento de Michelangelo, passando pela sensação de grandeza da Piazza Navona iluminada pelo trabalho de Bernini na "Fontana dei Quattro Fiumi", sem esquecer as inumeras igrejas e capelas com altares de rara beleza, desde Santa Maria Maggiore a San Pietro FuoriMuri até às ruinas imponentes do Coliseu e dos vários foruns Romanos!
Tudo em Roma transpira a história, a nossa história!
Mas Roma também é a Via Condotti com as suas lojas de marca, e o espectacular café "El Greco",
as escadas da Trinitá dei Monti, o volumoso "Monumento" a Vittorio Emanuel, a célebre Fontana dei Trevi, as "tratorias" dos arredores de Roma, onde se come "La vera pasta", o restaurante "Il picollo Mundo", com as suas paredes decoradas de fotografias de personalidades famosas, do Mundo do Cinema, a Via Venetto, palco do filme " La Dolce Vita" de Felini...
E nem falei do Vaticano...
Por tudo isto e por muito mais que eu aqui não disse: "Arrivederci Roma!!"

Tiber

domingo, abril 01, 2007

Ausencia

Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem - não foi homem,
Só passou pela vida - não viveu.

Desta vez, a minha ausencia deste espaço tem uma justificação...
Ou pelo menos tenho um motivo...
A saúde às vezes trai-nos quando menos esperamos...
Umas simples análises clínicas de rotina conduziram a toda uma série de testes, exames e ainda mais análises, felizmente já terminados e com um diagnóstico simples: "Anemia Ferropénica ou Ferropriva" resumindo: deficiência (eventualmente alimentar) em ferro...

Mas, enquanto não sabia os resultados, andei um pouco desorientado, desanimado, dificilmente evitava que o pensamento fujisse para os piores cenários, conduzindo a todo um grupo de hipóteses cada uma pior que a anterior... Refugiei-me no trabalho e no conforto de alguns (poucos) amigos e familiares mais chegados...
Isso tirou-me toda a vontade de por aqui andar e pensei até em fechar de vez este espaço...
Por outro lado, pensei na minha vida, no que já fiz, e no muito que ainda quero fazer, não quero passar pela vida, quero viver!

Felizmente, tudo acabou... pelo menos por agora...
Mas o susto e a angústia ficam para sempre!

Tiber

sábado, janeiro 20, 2007

Às vezes coisas dentro de nós...

Às vezes as coisas dentro de nós


O que nos chama para dentro de nós mesmos
é uma vaga de luz, um pavio, uma sombra incerta.
Qualquer coisa que nos muda a escala do olhar
e nos torna piedosos, como quem já tem fé.
Nós que tivemos a vagarosa alegria repartida
pelo movimento, pela forma, pelo nome,
voltamos ao zero irradiante, ao ver
o que foi grande, o que foi pequeno, aliás
o que não tem tamanho, mas está agora
engrandecido dentro do novo olhar.


Este poema foi publicado, salvo erro em 2002 como parte de "As fábulas" e foi escrito como uma breve Homenagem a Maria de Lurdes Pintassilgo, por Fioma Pais Brandão.
Fioma Pais Brandão, poetisa, tradutora, faleceu hoje aos 67 anos, em Lisboa.
Num curto espaço de menos de dois meses, partiram dois poetas : Mario Cesariny, e agora Fioma Pais Brandão e assim, vai a cultura viva deste país ficando cada dia mais pobre...
Não sei porquê, e apesar de ser um "lugar comum", ao ouvir a notícia da morte de Fioma, veio-me à memória, um poema de uma Brasileira:
Silvia Schmidt:

Quando um poeta se cala
Para sempre e deixa a vida,
Ouve-se a voz dolorida
De um verso levado à vala.

E uma poesia perdida
Vê-se na estrada, sem mala
Para guardar o que fala
E o que sente - sem guarida.

Quando um poeta nos deixa,
Fica uma brecha, uma queixa,
Resta um adeus sem acenos.

O mundo fica mais triste,
E o céu em dizer persiste
Que é Deus nos falando menos.


Tiber


segunda-feira, janeiro 15, 2007

O fim do Natal...

O dia 15 de Janeiro, dia de Santo Amaro, conhecido aqui na Madeira como dia de Varrer os Armários, marca o fim da época de Natal; tradicionalmente é neste dia que se arrumam os enfeites de Natal, que o Menino Jesus sai da Lapinha em Escadinha, para voltar ao seu lugar, na comoda de um dos quartos de dormir, onde ficará em sossego até ao próximo Natal...

O Natal tradicional aqui na Madeira, está cada vez mais distante e a desaparecer rapidamente; que é feito da beleza da "Festa"? Onde está o encanto da "1ªOitava"? Quantos ainda se lembram do "Cantar dos Reis" de porta em porta na noite de 5 para 6 de Janeiro? Quem se recorda ainda dos versos entoados em tom de alegre:
" Eu venho cantar os Reis
à porta do meu vizinho,
não tem nada pra me dar?
Dê-me um copinho de vinho!
E nós bem sabíamos,
e vós bem sabeis
que é no dia de hoje
que se canta os reis
".

E depois da festa dos Reis, lá vinha o Santo Amaro, no dia 15 de Janeiro... e lá iamos nós (os miudos como nos chamavam na altura...) de vassoura às costas outra vez de porta em porta para varrer os armários e claro está aproveitar para comer os últimos Bolos de Mel, as broas de mel acompanhadas com Tim-Tan-Tum... Como é óbvio, a vassoura só fazia parte da encenação...

Mas este ano, (talvez seja da idade que não perdoa), senti saudades do meu Natal... com os meus avós, senti que talvez esta época já não seja a minha, senti que já não me revejo nem vivo esta sociedade de consumo exacerbado e com valores por vezes tão distintos e diversos que não consigo compreender nem aceitar...
Este ano, neste Natal, ao ver pela Televisão, a transmissão da "Noite do Mercado", numa completa descaracterização do que era uma "noite mágica" e agora é mais um produto para turista ver com muito pouco de tradicional e sem aquela espontaneidade que o povo tem quando as festas são genuínas, dizia eu que ao ver tudo isso, senti-me triste, senti que de certa forma estava a envelhecer, não um envelhecimento físico, mas aquele anoitecer mental, aquele frio nas ideias, aquela sensação cruel de me sentir estranho na minha própria terra!

Tiber