quinta-feira, agosto 16, 2007

A Festa do Monte

Freguesia de Nossa Senhora do Monte
"A origem desta paróquia vem da fazenda povoada que ali tinha Adão Gonçalves Ferreira, o primeiro homem que nasceu nesta ilha e que era filho de Gonçalo Aires Ferreira (V. pag. 21), o mais distinto companheiro de Zargo na descoberta do arquipélago. Como geralmente acontecia, era uma pequena capela o centro em torno do qual se agrupavam os primeiros povoadores, tendo Adão Ferreira levantado ali pelos anos de 1470 uma modesta ermida, que parece ter tido o nome primitivo de Nossa Senhora da Incarnação, passando depois a chamar-se Nossa Senhora do Monte, devido certamente ás condições orograficas do local, que bem justificavam a nova e apropriada denominação. Outros afirmam que a milagrosa aparição da imagem da Santissima Virgem, que logo começaram a chamar Nossa Senhora do Monte, é que deu origem a que a capela tomasse este nome, que se transmitiu ao sítio e mais tarde a toda a paróquia.
A lenda dessa aparição miraculosa vem narrada, nos seguintes termos, no verso das gravuras que representam a pequenina e veneranda imagem: «Ha mais de 300 anos, no Terreiro da Luta, cerca de 1 quilómetro acima da igreja de N.ª S.ª do Monte, uma Menina, de tarde, brincou com certa pastorinha, e deu-lhe merenda. Esta cheia de jubilo, refere o facto á sua família, que lhe dão deu credito, por lhe parecer impossivel que naquela mata erma e tão arredada da povoação aparecesse uma Menina. Na tarde seguinte reiterou-se o facto e a pastorinha o recontou. No dia imediato, á hora indicada pela pastorinha, o pai desta, ocultamente, foi observar a scena, e viu sôbre uma pedra uma pequena Imagern de Maria Santissima, e á frente desta a inocente pastorinha, que a seu pai inopinadamente aparecido, afirmava ser aquela Imagem a Menina de quem lhe falava. O pastor, admirado, não ousou tocar a imagem, e participou o facto á autoridade que mandou coloca-la na capela da Incarnação, próxima da actual igreja de «N.ª S.ª do Monte», nome que desde então foi dado aquela veneranda Imagem.»"

Fonte: Elucidário Madeirense

O Elucidário Madeirense, foi uma obra criada para comemorar os 500 anos da Descoberta da Madeira, e é uma fonte quase inesgotável sobre a História da Madeira, do seu povo, seus costumes e tradições, e claro está sobre as várias lendas que a cultura popular teima em não apagar da memória...

A Nossa Senhora do Monte é a padroeira da Madeira, o seu dia celebra-se a 15 de Agosto, a lista dos seus milagres em benefício da população local, é imensa; o Monte, está para a Madeira, talvez como Fátima para o País!
Ainda sobre a Nossa Senhora do Monte, não resisto a contar a história, do seu primeiro milagre conhecido e cuja origem remonta aos tempos da descoberta:

" Nos primeiros tempos da colonização da ilha da Madeira, havia uma ribeira de água límpida e abundante rodeada de terras férteis que encantou os portugueses que lá chegaram. Mas um dia um senhor poderoso resolveu ter aquela água só para si e canalizou a fonte para as suas terras. A população desesperada, porque aquela água era imprescindível à sua sobrevivência, resolveu fazer uma procissão à Senhora do Monte, implorando para que a água voltasse a brotar naquela fonte. O milagre aconteceu e a água encheu de novo a fonte, mas em quantidade menor do que no início. O povo utilizou então em seu benefício a ideia do desvio da água e, construindo regos ou cales, levaram a água mais longe, tornando férteis muitos campos e quintas. A ribeira ficou a ser conhecida como a ribeira de Cales e o milagre da Senhora do Monte ficou para sempre na memória popular."

A Fonte ainda hoje existe, no Largo do Monte, cujo verdadeiro nome é "Largo da Fonte", e reza a crença popular que quando dela deixar de brotar água limpa e cristalina, a Madeira desaparecerá nas águas do Oceano...

É neste largo, no largo da Fonte, que se realiza o maior arraial da Madeira, a "Festa do Monte" que tem o seu ponto alto na noite de 14 para 15 de Agosto, com as Romagens e as Peregrinações, e termina no dia 15 com a Procissão; a missa solene, este ano é aguardada com alguma curiosidade, pois será celebrada, pelo novo Bispo da Diocese, D. António Carrilho.

Na Igreja do Monte, encontra-se ainda a sepultura provisória do imperador da Austria, Carlos, que faleceu nesta freguesia a 1 de Abril de 1922, e que constitui uma atracção e um ponto de visita obrigatório de muitos Turistas que nos visitam.
Também é da sua vizinhança, junto à escadaria que partem os Carreiros, e os célebres "Carros de Cestos" numa viagem sempre em grande velocidade até ás imediações da cidade.
Em tempos, existiu um Comboio de Cremalheira que fazia o percurso entre o centro do Funchal e monte, mas hoje em dia apenas restam algumas fotografias e um edifício degradado do que foi a primeira 8e única) estação terminal de comboio da Cidade do Funchal.

O Monte, é pois um dos lugares mais bonitos e emblemáticos deste "calhau", pena é que muitas vezes seja desprezado e esquecido principalmente por quem devia ter como supremo interesse o acautelar aquilo que na realidade constitui o nosso verdadeiro património e reflecte o sentir e o pulsar de um povo... esquecer as nossas tradições, "afogar" na modernidade as nossas raízes, desprezar a memória colectiva de uma sociedade é o primeiro passo para o sua desagregação...

Ainda vamos a tempo... Haja vontade...

terça-feira, agosto 14, 2007

Pobres e Mal-Agradecidos...

Ciganos

Tudo o que voa é ave.
Desta janela aberta
A pena que se eleva é mais suave
E a folha que plana é mais liberta.

Nos seus braços azuis o céu aquece
Todo o alado movimento.
É no chão que arrefece
O que não pode andar no firmamento.

Outro levante, pois, ciganos!
Outra tenda sem pátria mais além!
Desumanos
São os sonhos, também...

Miguel Torga


Este país é estranho...
Estranho e mal-agradecido...
No dia 12 de Agosto, se fosse vivo, Afonso Rocha, mais conhecido por Miguel Torga, faria 100 anos!
A data foi comemorada na sua aldeia natal, com a pompa e circunstância merecidas, mas curiosamente sem a presença de um único membro do Governo, sem uma única palavra de ninguém, sem uma menção da Ministra da Cultura... Apenas o Presidente da República se manifestou... ah, e Manuel Alegre, se calhar o último dos verdadeiros Socialistas...
Torga é um dos maiores poetas contemporâneos, como homem, foi sempre um lutador pela Liberdade, com várias obras apreendidas e censuradas e chegou até a ser preso...Premiado várias vezes, recusou receber prémios no Estado Novo... Não merecia esta desconsideração...

Curiosamente, nos programas do 12º ano, acho que Miguel Torga foi esquecido já há algum tempo... Como é grande um país em que nos currículos estudantis não cabe um poeta como Miguel Torga! Se calhar porque outros poetas maiores se "levantam"... é que senão for por essa razão, então é porque a estupidez assentou arraiais no Ministério da Educação...
E assim, vamos continuar a ser pobres... Pobres e mal-agradecidos!



Tiber