sábado, outubro 22, 2005

Cantiga da Carga

Chorai olhos, chorai olhos
As penas do Coração
As penas juntam-se aos molhos
Os Molhos deitam-me ao chão

Os Molhos deitam-me ao chão
Quase não consigo andar
Já me dói o coração
De uma vida a penar

Santo Antoninho da Serra
No cimo do seu Altar
Os senhores da Minha Terra
Matam-me a trabalhar

Subi ao alto do Monte
Para a lenha colher
Na água fresca da fonte
Vou chorar até morrer

cantiga tradicional madeirense

sexta-feira, outubro 21, 2005

Ilhas desconhecidas...

Turismo, álcool e açúcar têm degradado o povo e enriquecido alguns felizes da terra. O homem do Funchal, em contacto com o progresso, transformou-se em hoteleiro, engraxador e chauffeur.
E o povo? Os homens degenerados e raquíticos que todo o dia desfilam na rua diante de mim? Ponho em confronto o homem da Madeira com o dos Açores, o corvvino por exemplo, isolado do mundo e vivendo como há três séculos, e pergunto a mim mesmo o que lucrou com a civilização o habitante da cidade e o vilão? Lucraram os negociantes, os hoteleiros, afundam-se todos os outros numa abjecção que tem aumentado sempre. Cada vez se cava mais funda a separação entre as classes chamadas superiores e as outras. O que se faz neste país, é um crime que havemos de pagar muito caro!


in As ilhas Desconhecidas de Raul Brandão, 24 de Agosto de 1924



Estava eu arrumando alguns livros, quando deparei com este, "As ilhas desconhecidas" de Raul Brandão; são descrições pormenorizadas da vida e da realidade dos Açores e da Madeira, escrito em 1924. Salvaguardando as devidas proporções e o contexto da época, o espírito deste excerto é surpreendente pela actualidade que encerra.

segunda-feira, outubro 17, 2005


O primeiro post



Este é o meu primeiro post neste universo dos blogs...
E não podia ser senão sobre a Madeira, sim, sobre a ilha outrora chamada de Pérola do Atlântico; e digo outrora chamada, porque hoje em dia, com todas as mudanças e transformações sofridas aqui, duvido que tenha ficado alguma coisa da Pérola, e até mesmo o Atlântico já não é o que era!
Eu ainda sou do tempo em que o Atlântico, era Oceano e se enchia de brios nesta altura do ano! Galgava a Avenida do Mar, e chegava quase até à Casa da Luz (Empresa de Electricidade), agora amansou, já não galga coisa nenhuma e só deu cabo da Marina do Lugar de Baixo, porque se esqueceram de pôr o cimento todo na muralha...Se ele um dia se irrita e resolve mostrar a força que tinha, então ainda bem que vivo numa zona alta!
Mas voltemos à Pérola... Há quem diga que a Madeira cresceu muito nestes últimos trinta anos, eu pergunto cresceu como? O Pico Ruivo está mais alto? Nem por isso, antes pelo contrario, se calhar até lhe cortaram um pedaço; então será que está a ilha maior? Não me parece...
Então em que raio é que a Madeira cresceu? Terá sido em desenvolvimento? Temos agora mais industria? Produzimos mais? Outra vez a mesma resposta negativa... Bem, depois de muito pensar no fim de semana (sim, que durante a semana não me pagam para pensar...) descobri onde está o crescimento da Madeira! Aumentou o número de tuneis logo, a Madeira cresceu para debaixo da terra... O numero de Rotundas aumentou 60 vezes: Cresceu o nº de madeirenses a andar á roda... O numero de viadutos e pontes aumentou sei lá quantas vezes: Cresceu o numero de madeirenses a andar nas nuvens, ou será que andam a assobiar para o ar?

Tiber