quinta-feira, dezembro 21, 2006

Natal

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros. coitadinhos. nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.

É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce, de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.

Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.

Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento

e compra. louvado seja o Senhor!. o que nunca tinha pensado comprado.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino abre um olhinho na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,

corre à cozinha mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade, de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.


Natal, de António Gedeão


António Gedeão, é talvez mais conhecido pela "Pedra Filosofal" ou pela Lágrima de Preta", mas recentemente encontrei este poemaque penso ser dele, no meio de um livro antigo, durante umas "pseudo" arrumações de Natal...
É um poema bem forte, de uma crítica social bem marcada, que retrata toda a personalidade e a força da poesia de Gedeão.
Quanto a mim, ainda me lembro do poeta que me fez gostar de física, pois escreveu talvez o mais bem conseguido dos manuais escolares sobre fisica, pena foi que as sucessivas reformas da Educação esquecessem o que de bom existia nos antigos manuais...
António Gedeão, aliás Rómulo de Carvalho, era brilhante quer quando se assumia como professor e cientista, quer como Poeta...

Um Feliz e santo Natal a todos os que tiverem a paciência de por aqui passar!


sábado, dezembro 02, 2006

1º Dezembro, 1640

O Diário de Noticias do Funchal, na sua edição de anteontem, trazia uma espécie de "inquérito de rua" sobre o 1º de Dezembro.
Até aqui tudo bem, o pior veio quando comecei a ler a reportagem, e notei que há uma ignorancia enorme sobre o significado desta data para Portugal, poucos, mesmo muito poucos, tinham a verdadeira noção do que se comemora...
Pasme-se que um Sr Deputado desta terra disse que o dia 1 de Dezembro era um feriado religioso!
Este país continua a deitar fora uma legado que começou a ser construido há mais de 800 anos...
O nosso ensino de história, passou do 80 para o 0,8...e tudo isto se traduz numa perda de "memórias" colectivas, continuamos a esquecer aquilo que de melhor temos e que alguns teimam em manter: a nossa cultura, e a nossa identidade como povo, como país...
Basta ver o estado de abandono quase total e generalizado em que estão os nossos monumentos, a forma como (não) são tratados os nossos escritores, poetas, artistas etc...
Custa-me ver um aluno do secundário dizer que no 1º de Dezembro, se comemora a República ou um deputado dizer que o 1º de Dezembro é um feriado religioso...Devia ter uma penitência das grandes (tipo 5000 avé-Marias e 3000 Pai-nossos) por ter cometido tal heresia.
Mas, se calhar a culpa não é dele... É minha que não fui votar...
Na hipótese (altamente improvável) de o tal Sr Deputado passar por aqui, que ao menos olhe para o Monumento à Restauração, pode ser que lhe lembre alguma coisa... Se não funcionar, resta-me perguntar-lhe se o nome "Miguel de Vasconcelos " tem algum significado...

Tiber

domingo, novembro 26, 2006

Em todas as ruas te encontro...

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco

conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando

a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
Mário Cesariny

Mário Cesariny, poeta, pintor, escultor, faleceu hoje, aos 83 anos.
Apesar de não ser grande apreciador da arte surrealista de que Cesariny fazia parte, não posso ficar indiferente a um dos maiores poetas portugueses contemportâneos...
Cesariny partiu, mas a sua arte continua bem viva, oxalá não seja daqui a tempos, mais um dos "esquecidos" de Portugal.

Tiber

sexta-feira, outubro 06, 2006

Centralismos....

Se há coisa que eu detesto, o centralismo é uma delas...
Não confundo com centralização, que até pode ser uma boa solução em determinados casos...
Mas não me falem em centralismo "ideológico"!.. Não me falem em centralismo "de conhecimentos"!... Não me falem de nada que restrinja a capacidade de pensamento, de raciocínio...Não sou capaz de entender essas situações...Não consigo perceber que alguém seja capaz de se julgar melhor que outro só porque vive na Capital...

Os mais recentes Governos deste País, têm, independentemente da cor política, optado e fomentado um centralismo crescente, muitas vezes desperdiçando recursos técnicos e humanos, tudo subordinando a interesses instalados e à macrocefalia lisboeta...
Parece-me que um dos males deste país é a tentativa de centralização da "inteligência" e de um esvaziamento "cultural e científico" do resto do país, vergado ainda á ideia Salazarista de que "o País é Lisboa e o resto é paisagem"... O trabalho intelectual e científico, hoje em dia não tem fronteiras, tanto pode ser feito em Lisboa, como em Freixo-de-Espada-à-Cinta na Madeira ou nos Açores, basta que sejam dadas as condições e a igualdade de oportunidades...

Salvo os cinco ou seis anos que passei em Lisboa, enquanto estudava, sempre vivi na Madeira, e não considero que isso me tenha retirado capacidade ou tenha diminuido as minhas aptidões profissionais... Por isso, irrita-me solenemente quando me tratam com "desprezo intelectual" só porque optei (sim, foi opção ...) por viver aqui...
Nós ilhéus, não somos mais nem menos que os outros... não somos um "povo superior" como alguém anda a tentar vender, mas não somos também nenhuns "coitadinhos e pobres de espírito"...
Não suporto a arrogância com que alguns nos tratam...


Tiber

quinta-feira, setembro 28, 2006

Será Boato?

Este País está cada vez mais estranho...
Passam-se coisas cá, que penso eu não devem acontecer em nenhuma outra parte do Mundo...
Vem esta conversa a proposito de uma noticia que eu li um dia destes aqui na net:
"Os estudantes que pretendam ingressar num curso superior de Filosofia, não precisam de fazer prova de acesso de Filosofia, porque deixou de ser obrigatória..."
Espero que seja boato...

Mas, já antes saiu uma outra noticia que diz que os arguidos de um processo de corrupção desportiva (conhecido como "Apito Dourado") podem ser todos absolvidos, não porque estejam inocentes, mas sim porque alguém descobriu que a lei é inconstitucional, porque a autorização legislativa que o Parlamento deu ao Governo estava mal definida...isto há dois anos...e o processo pode ser anulado...
Espero que seja Boato...

Continuando... Hoje celebrou-se o Dia Mundial do Turismo, cujas comemorações internacionais este ano se realizaram em Portugal. As comemorações centraram-se (ou melhor, centralizaram-se) em Lisboa... Curiosamente, não fizeram referência ao Algarve nem à Madeira, isto é não foram tidos nem achados as regiões responsáveis por cerca de 80% do Turismo...É a prova provada que este País é Lisboa, o resto é paisagem...
Infelizmente não foi boato...

Porque será? Será do Guaraná? Anda tudo maluco ou sou eu que "endoidei" de vez?
Será que deixámos de ser um país de poetas para nos tornarmos num país de patetas?

Tiber

quinta-feira, setembro 14, 2006

Incêndios...

Há já alguns anos que na Madeira não assistiamos fogos florestais...
Temos sido espectadores á distancia de fogos no continente, e criamos a ilusão de que já tinhmos descoberto o "antídoto" que evitava essa destruição sem preço das florestas e matas.
Talvez fosse o intenso calor ou como aqui se chama, o "vento Leste" que soprou abrasador, e durou mais do que o costume...
Este ano, voltaram em força, sabe-se-lá porquê! Normalmente as causas são sempre "fogo posto" ou "descuido"...
Acho que deve ter sido mais descuido ou pura e simplesmente maldade, vingança, loucura, sei lá!
Uma coisa é certa : as imagens que circularam na net e que surgiram nos meios de comunicação, são terríveis, impressionantes, aterradoras...


Até quando continuaremos a vê-las repetidas ano após ano??



Tiber

quarta-feira, setembro 06, 2006

Obrigado DOLLY

Terminaram as férias... Para o Natal, há mais...
Estas férias ficaram-me marcadas... profundamente e pelas razões mais tristes... morreu a Dolly, a caniche companheira aqui de casa há 16 anos!
E nunca mais a vou ver aparecer na varanda quando chego, nem ouvi-la ladrar quando alguém bate à porta...
Tinha estado doente e sido operada a um tumor no baço, sofria de um sopro cardíaco, mas mantinha sempre aquela vivacidade, a amizade, a intensa lealdadee a dedicação que só os cães conseguem transmitir...
Pela segunda vez, este ano, a casa ficou mais vazia, e eu nunca pensei que o silêncio da sua falta gritasse tão alto quando chegamos a casa!
Pela segunda vez este ano, fica esta sensação de perda, de tristeza, este vazio...
Pela segunda vez este ano, sou obrigado a escrever neste espaço, com as lágrimas nos olhos...

Por todos aqueles bons momentos, por toda a tua lealdade e amizade:
Obrigado DOLLY!


Tiber

quinta-feira, agosto 24, 2006

As Férias ... do Blog

Este "blog" esteve de férias, mas como tudo o que é bom acaba de pressa, cá voltou de novo às lides...
Passado o período de reflexão, terminado o mundial de Futebol (acabou à cabeçada, mas acabou...) finda a novela futebolística do ano (Simão fica ou não no SLB?), terminado (por agora) o chamado "caso Mateus", voltamos a ter campeonato...
E lá vou eu voltar a escrever neste espaço, desde o "tal calhau plantado no Atlântico"...

Por enquanto, ainda estou de férias, bem merecidas por sinal... pena que foram curtas, mas para acabar como comecei:
O que é bom acaba depressa, ou como diria a minha tia Beatriz:
o que é bom ou faz mal ou é pecado, ora bem como as férias não fazem mal, (uma vez que até por vezes são receitadas pelo médico), deduzo que ir de férias é pecado...

Até breve que eu já volto...

Tiber

quinta-feira, abril 27, 2006

Liberdade, liberdade

Quase sem dar por isso, o Governo retirou o subsidio que dava para que os preços das revistas fosse igual em todo o territorio nacional...
Com mais esta medida que, pelos vistos, deve dar um grande contributo para a unidade nacional, discrimina-se mais uma vez aqueles que têm a "ousadia" de viver fora do Continente português...

A justificação foi simples... nem se dignaram a dar nenhuma... de repente, fui comprar a "Bit" e deparei-me com um preço acrescido de €1,8...

Ah! Já me esquecia, as "meninas" do MAdeira SAD em Andebol, a quem "obrigaram" a jogar o campeonato em apenas 3 jogos e todos fora de casa, não foram de modas, e ganharam pela oitava vez consecutiva... Mas como "aquelas carolas não param", já estão a "magicar" uma nova orgânica para o campeonato do próximo ano...
Não seria melhor e mais transparente, pura e simplesmente proibirem o Madeira SAD de participar no campeonato? Assim de certeza que as campeãs eram outras...

Será que temos que "comer e calar" o facto de querem tratar-nos como portugueses de segunda apanha?

Tiber

terça-feira, março 28, 2006

Linda, a Hamster da casa...


Há cerca de dois anos que fazia parte da família... Linda, uma hamster esperta, de olhar traquina e ar vivo, como todos os roedores devem ser...
Chegou, numa pequena caixa, trazida de Lisboa pela minha filha, que a queria por companhia... E foi ficando... Rápidamente nos conquistou a todos, com aquele andar "rasteiro"rápido, sempre à procura de um sítio para se esconder... Habituei-me aquela "rata" aos ruidos dela, aqueles dentes saidos, arreganhados, aquele olhar brilhante, cheio de vida...
Linda, a Hamster da casa, partiu hoje...Tranquilamente, sem aviso prévio, apareceu morta dentro da gaiola...
A imensa tristeza que nos assalta a todos aqui em casa, com a partida da Linda, não se traduz em palavras... Fica a saudade... e um vazio na casa... apesar do seu tamanho pequeno, a casa parece vazia...
Morreu Linda, a Hamster da casa...

terça-feira, março 07, 2006

O mar da ilha


Este Inverno tem sido o mais rigoroso dos últimos anos... Desde a chuva que tem sido abundante, até ao frio e ao vento, parece que temos tido tudo aqui pela ilha.
E para falar de Inverno e da Ilha, não podemos esquecer o mar... o cheiro a maresia, o barulho das ondas faz-me falta...

Mas o mar tem que nos merecer respeito... e nem sempre o respeitamos...poluimos, destruimos, damos cabo das suas costas, acabamos com os seus peixes, matamos os recursos que possui, pensando que são ilimitados...
E de vez em quando, o mar irrita-se, enfurece-se, reclama aquilo que lhe pertence... e os resultados são catastróficos...
Há duas semanas, a marina do Lugar de Baixo, na Ponta de Sol, foi outra vez atingida...
Os estragos, só provam que a incúria do Homem tem um preço, mais tarde ou mais cedo, alguém vai ter que pagar!

Felizmente, os danos são só materiais, não haver feridos nem mortos, já não foi mau de todo..


"Oh mar Salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal"

domingo, fevereiro 26, 2006

Acalmia

Finalmente parece que o trabalho por aqui está a abrandar...
Hoje já tive tempo para por a leitura (e a escrita..) em dia. Esta ideia luminosa das empresas reduzirem o pessoal, tem uma consequência directa: sobra para os que cá ficam... foram quase três semanas a sair fora de horas... e pior que isso, a chegar a casa tão cansado que apetecia tudo menos andar por aqui...
Enfim, parece que tudo está a voltar à normalidade.. E com as mini-férias do Carnaval vai dar para pelo menos descansar alguma coisa...
A Madeira está outra vez cheia de gente por causa do Carnaval... É uma época que pouco me a atrai, e nada me diz...Feita à base de "importações" brasileiras, que tentam trazer para cá, um costume que não é nosso...e ao qual a população ainda não adere em massa... fica a festa e o desfile, para "inglês" ver...
Mas o verdadeiro Carnaval madeirense está cada vez mais adulterado e disfarçado... Já quase não se fazem sonhos nem malaçadas... foram trocadas muitas vezes por cachorros quentes, hamburgers, etc...
Acabaram as lutas de ovos e farinha na Rua da Carreira, as "bisnagas" de água para atirar a quem passava, os confetti coloridos e as "bombinhas de mau cheiro"...

A todos um bom fim de semana e aos que podem e gostam, um bom e divertido Carnaval.

Tiber

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Politica (?) Desportiva

Tem sido muito criticada a política desportiva do Governo Regional da Madeira; com efeito a "subsídio-dependência" criada e muitas vezes fomentada pelo Governo Regional, conduz muitas vezes a mau aproveitamento de dinheiro e à instalação de vícios inaceitáveis.
Mas, contrapor isso na prática, com medidas discriminatórias, lesivas da unidade Nacional, e da igualdade que a nossa (?) Constituição consagra, é para ser simpático, uma forma idiota e pacóvia de ver estes problemas.
Vem esta conversa toda a propósito da Federação Portuguesa de Andebol ter "impedido" uma equipa da Madeira, que por acaso até é (salvo erro) hepta campeã nacional (ganhou os últimos sete campeonatos...) de participar em conjunto e em igualdade com todas as outras, no Campeonato (dito) Nacional de Andebol; a participação vai resumir-se aos ultimos 4 jogos, disputados em terreno neutro (necessáriamente no Continente claro está...) sem efectuar nenhum outro tipo de jogo oficial... A equipa do Club Sport Madeira, arrisca-se a ser campeã, disputando apenas 4 jogos ao longo de todo o ano...
O problema é para mim mais vasto e ultrapassa largamente a mera questão desportiva; tem que ver com a visão tacanha de que o "País é Lisboa e o resto é paisagem"; são resquícios de um império colonial que se pensava já estarem completamente erradicados; pelos vistos, alguns saudosistas dessa época, ainda fazem história... E não me venham com desculpas de carácter económico... essa é uma falsa questão, aqui, a verdadeira razão é bem diferente, é a tradicional hegemonia macrocéfala da Capital do Império, que está em causa; enquanto esta situação se mantiver, enquanto Lisboa não entender que o império está morto e enterrado, este país não anda... continuaremos a ser ultrapassados por todos, e sempre solícitos e queixosos de que não temos recursos... Coitadinhos...


A sabedoria popular do nosso António Aleixo, já reclamava:

Vós que lá do vosso império
Reclamais um Mundo Novo
Calai-vos, que pode o Povo
Querer um Mundo Novo a sério

Tiber

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Sorte Malvada

Há dias assim...
Não foi do tempo, que até teve bom...
Não foi do futebol, que o meu clube até ganhou... e bem!
Não foi da neve, que não nevou aqui no "calhau"...
Não sei de que foi, mas hoje estou em dia não! Como diria a Bethânia :"São tantas coisinhas miudas..."

Será que afinal a vida é simples e nós é que a complicamos?

São tantas as perguntas que sempre ficam sem resposta...
E nestes dias, que nos sentimos em baixo, desanimados, como se o céu nos caísse em cima, que fazer?
De onde virá esta angústia que nos mói e consome sem razão aparente?
Porque será que a mais leve brisa por vezes nos parece uma enorme tempestade?
Não há uma luz, uma saída... só este imenso túnel onde caminhamos, aparentemente sem razão e sem sentido!
E mais não digo... não estou capaz de dizer mais nada...
Que tenham todos uma semana bem melhor que a minha...
Também não deve ser difícil...

domingo, janeiro 22, 2006

Património Vandalizado

A conservação do nosso património arquitectónico e artístico, devia ser um dever de todos nós.
Vem esta afirmação a propósito de um artigo saido hoje no Diário de Noticias da Madeira, sobre a vandalização da estátua do "Semeador", que é apenas um dos maiores e melhores trabalhos desse grande escultor que foi Francisco Franco, feita em Paris, em bronze e que foi durante muitos anos " a imagem de entrada" do edificio do Governo Regional na Avenida Zarco; há alguns anos, foi transferida para o topo do Parque de Santa Catarina, no centro da cidade, a dois passos da Residência oficial do Presidente do Governo, está “literalmente” coberta com inscrições, assinaturas, corações e outras figuras, efectuadas por quem nunca recebeu a instrução e a educação necessária para saber apreciar aquilo que de bom temos e que constitui a nossa verdadeira herança como povo!

Este é apenas um caso... Dos muitos que devem existir por esse pais fora, e não se deite a culpa para cima dos jovens, porque em muitos casos, os verdadeiros atentados que por aí se fazem ao nosso património muitas vezes têm, se não o apoio, pelo menos um silêncio concordante das entidades governamentais.

Veja-se, por exemplo, a “tradicional” e medieval aldeia de Óbidos, ainda hoje me espanta a grande evolução do povo Português, que já na idade média tinha conhecimentos para fazer vidros fumados, janelas com perfis de alumínio,etc.

Será que a ninguém deu parecer a esta “aberração” que surgiu num dos castelos mais visitados pelos turistas em Portugal?
Neste caso, a vandalização foi feita "de dentro" com a concordância de todos... Excepto o pobre do Castelo que não foi tido nem achado nesta triste história.
Mas afinal, não aprendemos nunca???



domingo, janeiro 15, 2006

O Santo Amaro


15 de Janeiro dia de Santo Amaro, é "dia de varrer os armários".
É o dia que marca o fim da Festa, em que se desfaz a "Lapinha", e se arruma tudo... na prática é o "fim do Natal"...

Antigamente, neste dia visitavam-se amigos e vizinhos, comiam-se as últimas broas de mel, preparava-se a ultima dose da carne de "vinhalhos", bebia-se o que ainda restava dos licores, etc...

Hoje em dia, já nada disto acontece.... a única visita foi a chuva... e o frio... este frio húmido e insistente, que ataca até aos ossos...


A tradição já não é o que era...

segunda-feira, janeiro 02, 2006

"O vento nada me diz"

A noite do fim do ano, aqui na Madeira, teve o seu ponto alto, como de costume com o fogo de artifício, foram 9 minutos de espectáculo de cor e de luz, iluminando a nossa bonita baía do Funchal, foi isto o que mostramos ao mundo...
Só quem cá vive, é que notou os engarrafamentos de trânsito enormes que duraram até às três da manhã, na chamada Via Rápida...
O porto do Funchal teve um movimento fora do normal, com cerca de onze navios cruzeiro...
Mas já ninguém viu que uma hora mais tarde restavam quatro...
A Madeira no fim do ano lembra-me um jogo de futebol... acaba o jogo e o estádio esvazia-se... vão-se os ecos dos aplausos e dos assobios cada vez mais rápido; vivemos intensamente estas duas semanas, numa euforia e numa correria que termina em quase nada; hoje, a vida volta ao normal.
E só hoje notamos que os combustíveis subiram mais uma vez, que os passes dos transportes foram também por aí acima, se calhar embalados por um dos foguetes da noite de S.Silvestre.
Só hoje voltamos a cair na real, a perceber que este país assim não tem futuro, se calhar não tem presente e qualquer dia, não tem (porque o esqueceu...) passado!

Resta-nos começar já a preparar as festas do Carnaval, da Flor, da Páscoa, de Verão, da Vindima, etc... Sem esquecer que em Junho temos o Campeonato do Mundo de Futebol, e vão ser se calhar mais quinze dias em que vamos esquecer tudo... e depois lá volta tudo ao princípio: aumentos, despedimentos, etc...

E lembro-me do Adriano Correia de Oliveira:

Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
O vento cala a desgraça
O vento nada me diz!

Embora o contexto seja diferente, continuam a não haver boas notícias ao vento neste país...

Feliz Ano Novo!