sexta-feira, outubro 21, 2005

Ilhas desconhecidas...

Turismo, álcool e açúcar têm degradado o povo e enriquecido alguns felizes da terra. O homem do Funchal, em contacto com o progresso, transformou-se em hoteleiro, engraxador e chauffeur.
E o povo? Os homens degenerados e raquíticos que todo o dia desfilam na rua diante de mim? Ponho em confronto o homem da Madeira com o dos Açores, o corvvino por exemplo, isolado do mundo e vivendo como há três séculos, e pergunto a mim mesmo o que lucrou com a civilização o habitante da cidade e o vilão? Lucraram os negociantes, os hoteleiros, afundam-se todos os outros numa abjecção que tem aumentado sempre. Cada vez se cava mais funda a separação entre as classes chamadas superiores e as outras. O que se faz neste país, é um crime que havemos de pagar muito caro!


in As ilhas Desconhecidas de Raul Brandão, 24 de Agosto de 1924



Estava eu arrumando alguns livros, quando deparei com este, "As ilhas desconhecidas" de Raul Brandão; são descrições pormenorizadas da vida e da realidade dos Açores e da Madeira, escrito em 1924. Salvaguardando as devidas proporções e o contexto da época, o espírito deste excerto é surpreendente pela actualidade que encerra.

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