Não se sentia realizdo em suas ambições. No termo da segunda infância começou como aprendiz de sapateiro a receber do trabalho duas patacas e com elas já fazia um figurão. Mas sempre notava um vazio, uma insuficiência em sua vida de rapazinho. Raramente ferrava com companheiros do lugar. A sua vida assemelhava-se ao raiar da manhã entrando Maio com as reverberações vermelhentas a pintarem a cal da parede do quarto, explodindo de criação na luz do Sol, génese do mundo. Dentro dele alguma coisa o impelia sem saber para onde, nem para quê.
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Horácio Bento de Gouveia
Horácio Bento de Gouveia, foi quanto a mim, o maior escritor madeirense contemporâneo. Figura humilde e simples, escritor por vocação e profundo conhecedor da realidade da Madeira no século XX, os seus livros retratam a vida da sociedade madeirense, presa nessa época a uma emigração crescente em que a Venezuela e a África do Sul constituiam verdadeiros "El-Dorados" e miragens, objectos de sonhos e de desejos...
Horácio Bento, retratou essa realidade como ninguém, de forma sentida onde as lágrimas da despedida no cais eram rápidamente aumentadas pela saudade e logo a seguir, amplamente compensadas pela alegria do regresso ainda que temporário à terra.
O Dr Horácio Bento (Ti Bento, como nós lhe chamavamos...), leccionava Português no Liceu do Funchal (Jaime Moniz) e quiz o destino que nesse já longínquo ano de 1973/74, ele fosse chamado a dar aulas de "Organização Política e Administrativa da Nação" e por consequência, meu professor... Era um Homem franzino, de ar frágil, com um sentido de humor muito particular, apreciador da Beleza e conhecedor profundo da natureza humana do Ilhéu.
Dele recordo em especial os dias seguintes ao 25 de Abril de 1974...
Na primeira aula a seguir ao 25 de Abril, disse aquilo que sentia e estava há muito voluntáriamente silenciado e terminou, afirmando que as aulas de "Organização Política e Administrativa da Nação" tinham terminado, porque esta Nação não podia continuar a ter esta Organização...
Recordo-o com saudade, e só lamento que a divulgação da sua escrita não tenha sido efectuada de forma mais intensa em todo o espaço português.
1 comentário:
Gostei muito deste cantinho no Atlantico.
Singela e bonita, a homenagem prestada ao "Ti Bento" .
Voltarei, Abraço.
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