que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhai-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
(António Gedeão)
(António Gedeão)
Este poema traz-me à memória um turbilhão de recordações...Em especial, de meu avô, que me explicou o que significava cada uma destas linhas, que me mostrou, era eu criança ainda que o racismo era uma coisa má (como ele dizia) e que devia sentir orgulho por Portugal ter sido talvez o primeiro país europeu a abolir a escravatura...
Alguns anos mais tarde, já meu avô não era vivo, redescobri este poema na voz de Adriano Correia de Oliveira.(Um LP trazido à socapa por um tio meu que na altura estudava em Coimbra..) e foi então meu tio quem me explicou porque é que o disco não estava à venda normalmente e porque é que se o quisesse ouvir alto, era melhor usar auscultadores...
Este poema, foi por tudo isto, uma verdadeira fonte de aprendizagem para mim....
Passaram mais uns anos e volto a redescobri-lo, dessa vez na sua forma científica, percebendo o que eram os ácidos, as bases e os sais...
Tudo começou de repente a fazer sentido...Nesses já longíquos anos 70, lembro-me de ter lido, quase como quem lê um romance, o livro de Física e Química, cujo autor se chamava Rómulo de Carvalho e hoje, ao arrumar alguns papeis antigos, encontrei uns apontamentos já meio desfeitos pela humidade (esta minha mania de guardar tudo tem este problema) um pequeno excerto de "A História do átomo" publicado em 1975, precisamente por Rómulo de Carvalho:
"O átomo começou por ser uma hipótese, uma suposição simplesmente cómoda para tornar mais fácil a interpretação do Universo, e acabou por ser um 'objecto', uma 'coisa', que se pode dirigir, dominar, criar e destruir. Foi como se alguém tivesse sonhado com um mundo fantástico e um dia o descobrisse, vivo e real, ao dobrar o cotovelo de uma estrada. Certamente ninguém acredita na existência das coloridas paisagens que o génio de Walt Disney tem imaginado e seria bem tolo aquele que percorresse o mundo na esperança de as encontrar. E se a encontrássemos, um dia, noutro planeta?
E assim sucedeu com o átomo: nasceu na imaginação e, afinal, existia."
E se nessa época os "chumbos" em física eram bem menores que agora, será que os Manuais e a forma como estavam (bem) feitos, não davam um contributo decisivo?
Tiber
3 comentários:
Muito lindo!
É engraçado que com os anos, e com a idade, nos vamos lembrando de coisas que os nossos avós nos ensinavam...
Uma boa semana para ti
beijinhu
LOLOLOL
Eu poderia ter escrito este post...
Tinha uma prof de Física/química Dra Marília, que era um terror...exigente...A esta distância digo que era uma excelente professora, eu é que não gostava da matéria...mas como tudo mudou quando soube que Rómulo de Carvalo e Gedeão eram a mesma pessoa...só que já era tarde, naquele ano lectivo...um chumbo redondinho do tamanho da "légua da Póvoa" e "Eu quando choro...não choro eu...chora tudo o que no Homem em todo o tempo chorou. As lágrimas são as minhas mas o choro não é meu"....ou..."os meu olhos são uns olhos e é com estes olhos uns que vejo no mundo escolhos...etc..." que umas amigas, mais velhas, me apresentaram. Bela fase da minha vida em que a leitura na esplanada do Caxi-Mar e as declamações e as encenações em casa da Luisa preenchiam parte das tardes das nossas férias. É bom fazer memória e tu ajudaste-me a fazê-la
Beijo
Vim espreitar...já no primeiro dia vi que tens o link para o Fraternidade...conhecias o Fernando? No início das minhas andarilhanças bloguísticas ele ajudou-me muito...ficaram as recordações e a saudade
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